A leitura do pai é diferente da leitura da mãe?
Se eu acho que a leitura do pai na formação do leitor é importante? Claro! Está cheio de pesquisas que comprovam isso... Mas, tenho que ser sincera e confessar que fico angustiada com as pesquisas que valorizam a família biparental em detrimento de outras organizações familiares. Cada dia que meus filhos ficam apenas comigo pois o pai, por algum motivo, não conseguiu estar por perto, eu me sinto culpada, como se estivesse prejudicando a formação deles. Sério! Nessas férias, por exemplo, assisti com Fernando todos os filmes do Rocky Balboa e me senti mal, era para o pai ter feito isso... Quanta bobagem, não é mesmo?! Quando é que vamos nos libertar do determinismo dessas pesquisas?! A vida não é tão simples como os pesquisadores julgam!
É claro que a leitura do pai é importante. Mas não por que se trata do pai (ou da mãe). Podia ser uma família de dois pais ou de duas mães ou de uma mãe só e até de um pai só... O que acredito estar em jogo aqui é a diversidade da leitura e não de quem lê. Isso sim é importante para a formação do leitor.
Se prestarmos atenção, isso acontece o tempo todo: lemos diferentes textos com diferentes propósitos. Hoje mesmo li a procuração do advogado com o propósito de me informar e li também algumas páginas do meu livro de cabeceira (de autoajuda, confesso mais uma vez) para me entreter.
Quando meus filhos eram bebês, gostava de ler para eles à noite, antes de dormir. O quarto ficava a meia luz, o livro que escolhia era delicado, minha voz durante a leitura era suave e em tom bem baixinho... Já o pai, Alberto, gostava de ler com o quarto bem iluminado. Alegava que não conseguia enxergar o livro. Ele gostava de ler e conversar e dava preferência para os livros que tinham humor. Ele lia, assim como eu, sobretudo à noite. Ambos trabalhávamos muito e este era o tempo que tínhamos para ficar com as crianças. Quando era a vez dele ler, eu me desesperava. As crianças ficavam super excitadas, morriam de rir, falavam alto, levantavam da cama para pular, bater palmas e buscar alguma coisa... Ufff, assim elas não iam dormir nunca!!!
Condesso que ficava tão aflita que cheguei a suspender a leitura do papai. Ele que cuide da louça do jantar que assim as crianças dormem mais fácil. Ou será que mais rápido?! Nossa, como eu estava errada!!!
Por isso valorizo tanto o movimento atual dos pais para se "apoderarem" do seu lugar de afeto na família. Nunca fazer uma criança dormir cedo e rápido foi tão pouco importante... O prazer de estar com o pai e com um livro e, juntos, construir momentos de leitura prazerosos é o principal aqui nessa história toda. Por isso, a minha bandeira neste post, é que a leitura em família aconteça todos os dias e com os mais variados propósitos. Não tem regra: uma dia vai ser ler para rir e no outro ler para relaxar.
E, por favor, caso a sua família seja formada por dois adultos, não exile o seu (ou a sua) companheiro(a) na cozinha só por que ele(a) não faz as coisas do jeito que você quer! Para os filhos, o que fica, é a lembrança dos melhores momentos. Os meus já sabem: se tiver piada, melhor falar com o pai. Agora, se tiver drama e as lágrimas correrem soltas, melhor a mãe. Acho que por isso o Fê gostou tanto de assistir os seis(!!!!) filmes do Balboa comigo. Durante as lutas eu fechava os olhos. Não gosto de boxe. Mas amei a trajetória do personagem. E ele também! Viva as diferenças!!!
P.S. A ilustração fofa que acompanha este post é da Susana Rodrigues, uma jovem e talentosa ilustradora de livros infantis.