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O livro das férias...


Além das felicitações pelo ano que se iniciava, vários amigos meus comentaram comigo nesses primeiros dias do ano sobre o livro que estavam lendo. Ou recém terminavam de ler. Ou que tinham levado consigo para a viagem de férias, mas sequer abriram. Achei curioso.

Acredito que por ser editora e autora, a maioria dos meus amigos e familiares acreditam que devam me dar satisfação sobre o andamento das suas leituras. Já imaginou se eu fosse dentista? Eles abririam o seu melhor sorriso... Nutricionista? Caprichariam na salada. Mas, como profissional do livro, o assunto dos últimos meses foram livros. Das férias.

Não me recordo bem sobre quando comecei a viajar com meus livros. Devia ser ainda menina, pois me lembro de estar na casa dos meus avós na Serra da Mantiqueira com o livro da Pollyanna nas mãos... Sentatinha, em uma espreguiçadeira. Até parece que nada mudou desde então.

Para falar a verdade, todo verão e todo inverno separo alguns livros para me acompanharem neste período chamado de férias. Às vezes sequer viajo. Em outras, prossigo trabalhando. Mesmo assim estes são meses sagrados para os chamados “livros das férias”.

Passei este hábito para meus filhos. Como eles sempre ganham um livro de presente de natal, o livro a ser lido em janeiro geralmente está resolvido. Em julho, eles escolhem. Quando dou por mim, colocam um, dois, três até quatro livros na mochila de viagem – um problema quando embarcamos de avião para algum lugar mais distante. Menorzinhos, a leitura era certa: eu e meu marido nos revezávamos na tarefa de conduzir as crianças livros adentro, até o final. Hoje em dia, como acontece com a maioria de nós, às vezes os livros são lidos, às vezes não. O mais importante é que estão ali, juntinho deles, prontos para serem lidos.

Eu passei essas férias de final de ano descobrindo o que era ser criança na São Paulo dos anos 50, conhecendo melhor o movimento musical da passagem dos anos 60/70 e adquirindo uma maior consciência dos significados da minha adolescência.

Tudo isso durante a leitura da deliciosa autobiografia da Rita Lee, o meu livro dessas férias. Super-recomendo. Bem escrito, divertido, carregado de sentimentos. Honesto.

Terminei o livro com vontade de telefonar para a Rita e dizer: obrigada, obrigada, obrigada. Minhas férias no Caribe (!) foram melhores ainda por sua causa. Depois me lembrei de que telefonar é coisa antiga. Posso mandar uma mensagem via FB. E a coragem?!

Meus filhos ainda não leram o livro das férias deles. Mas ainda lhes restam três longas semanas. Em algum momento a leitura vai rolar.

O livro das férias para mim é, principalmente, um ritual. Um ritual essencial, compartilhado por outras pessoas, que eleva a leitura ao seu patamar máximo: lemos por que gostamos de ler e a leitura nos completa. Dá sentido, faz parte da nossa condição humana.

Em minha opinião, o bebê deveria ser introduzido neste ritual já na sua primeira viagem. Ou nas suas primeiras férias. Ou nas primeiras férias de seus pais depois que ele nasceu. Não precisa ser um livro novo. Pode ser aquele mesmo de todos os dias. O mais importante é que ele cresça observando a sua família preocupada em fazer as malas sem esquecer o livro das férias.

Embora a maioria das pessoas fale da importância da leitura, não vejo ninguém discutindo a fragilidade que assombra atualmente a leitura por prazer, esta que fazemos em nossos momentos de lazer e descanso. Nosso tempo livre é praticamente sequestrado pelas redes sociais, nem sempre de forma útil, produtiva e muitas vezes sequer prazerosa. Esse é um tema que pretendo voltar em outro momento. Mas repare bem, até você deve se cansar das redes sociais...

Outro ponto é que saímos de férias para descansar e enchemos nossa agenda de viagem com compromissos. Isso também acontece com você?

Foi até o Caribe e ficou lendo?! Por que não foi mergulhar? Por que não gosto. Por que não saiu de barco?! Por que não quis. Stand up?! Kitesurf?! Nada disso.

Simplesmente fiquei lendo por que gosto de ler e gosto ainda mais quando estou em uma praia paradisíaca praticamente vazia, sem ambulantes, limpíssima... Entre uma página e outra do livro, só o barulhinho suave das ondinhas do mar e do vento balançando as folhas das palmeiras. No coração, o despertar do amor pelo livro, pela autora e de certa forma por mim mesma, pois estava feliz com a leitura. Quer coisa melhor?!!

P.S. O livro que aparece na foto que acompanha este post é o livro "Rita Lee - uma autobiografia", escrito pela Rita Lee e publicado pela Editora Globo Livros em 2016.

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