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E salve o ilustrador nacional!


Por que optar por ler livros ilustrados por profissionais nacionais para a criança pequena? Após um mês fazendo um pequeno inventário da imagem da criança no livro infantil brasileiro, só posso responder: por que é essencial que nossos brasileirinhos possam se identificar com as imagens dos livros que lemos para eles. Afinal, em qual outro lugar do mundo a gente encontra em um livro um indiozinho dormindo na rede? E um menino gordinho avançando nos brigadeiros da festa? Ou ainda um bebê negro levando lambida de um cachorrinho no rosto? Só no Brasil mesmo para encontrar tamanha diversidade de temas, raças e etnias e, principalmente, de estilos. Explico cada um deles.

A questão das raças e etnias é um pouco obvia. Comece a reparar: na ilustração dos livros infantis europeus predominam determinados tipos biológicos. Por mais caricata que seja a imagem, podemos afirmar que, de forma geral, nos livros espanhóis aparecem mais caucasianos, assim como nos livros franceses. E por aí vai. É tão forte esse padrão que atualmente até sou capaz de identificar se o ilustrador é espanhol (catalão então!) ou francês. Ou colombiano. E essa discussão não tem fim... Mais vale uma pequena observação: a maioria dos livros para bebês é lançamento mundial, por isso há a tendência de se contemplar diferentes etnias e raças. Mas volte a reparar: de onde são as crianças negras, brancas e orientais que eles mostram? Não dá para identificar. São crianças genéricas... Quando um ilustrador cria os seus personagens, ele mobiliza toda a sua carga de informações e referencias. Por aqui, muitos temperam o seu trabalho com uma certa brasilidade. Não se trata de uma criança indígena qualquer, mas de uma menina guarani ou caiapó. Será que consegui explicar?!

Aí entramos nos temas. A simples menção a um brigadeiro, para mim, já parece dizer tudo. Em qual outro país esse nosso docinho tão amado aparece no livro infantil? Repare novamente: o que tem de cupcake nos livros lá de fora... Mas tem mais. Há a questão do comportamento. Tenho a impressão que o lado irreverente e, por que não, mimado dos nossos brasileirinhos transparecem no livro nacional. Neste mês, vi tanta imagem de criança fazendo birra que até achei graça. Será que os nossos pequenos são tão manhosos assim? Fiquei com a impressão geral de que a criança retratada nos livros feitos por aqui é mais natural e está mais próxima da nossa realidade cotidiana. Brinca na terra, anda descalça, quebra coisas, amola os amiguinhos, chora muito, não quer tomar banho, come muito, não come nada, deita e rola com os animais de estimação e por aí vai... Muitas têm a vó por perto e isso me chamou a atenção. Afinal, é fato que as avós estão presentes na criação dos filhos de muitas famílias brasileiras.

Finalmente, o estilo. Vi traços mais abstratos e outros mais realistas. Vi imagens que pareciam querer superar o texto (e muitas superavam mesmo) e outras que eram mais contidas, deixando o texto “falar” mais. Encontrei ilustrações cheias de cores e texturas e outras desenhadas só com linhas. Numa única cor: o preto. Vi desenho feito à mão, aquarelado e outros já totalmente digitais. Encontrei ilustrador com um trabalho super amadurecido e outros, estreantes, mas também com grande qualidade em suas imagens. Ao fim e ao cabo, cheguei à conclusão que as editoras são abertas e não se prendem a um determinado padrão de ilustração. E isso é muito importante. Quando fui pela primeira vez ao exterior expor meus livros nas grandes feiras internacionais, a primeira crítica que me fizeram foi o colorido vivo que a maioria deles tinha. “Ahhhh, europeu não gosta de livro tão carregado de cores assim como os seus...”. Levei um baita susto com a crítica, pois nunca tinha pensado em censurar o trabalho de um ilustrador e função das... cores! Pois é, nem preciso dizer que após várias tentativas de vender meus títulos no exterior resolvi ficar por aqui na nossa terrinha. Afinal, somos mais coloridos mesmo!

Pois então, sugiro aos pais e educadores que observem as ilustrações do próximo livro a ser lido para o bebê e tentem perceber o que elas estão comunicando do ponto de vista estético e também social. Você e sua família se identificam com as imagens do livro? Bora ler! E não deixe de comentar sobre elas com a criança. Assim ela já vai se tornando também um bebê que, além do texto, gosta da arte dos livros.

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