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Resenha: "O grande rabanete"

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Por que ler?

Tatiana Belinky é uma das escritoras estrangeiras mais brasileiras que existe na nossa literatura infantojuvenil. Seu trabalho em prol da leitura e do desenvolvimento da literatura infantil no Brasil é de tamanha importância que seria uma grande falha do blog Bebê Leitor não contemplar pelo menos uma das suas obras. Ela não escreve para bebês, mas alguns de seus livros são tão deliciosamente divertidos de ler em voz alta que vale a pena experimentar a leitura com os pequeninos. Dois deles merecem particular atenção: "O grande rabanete" e "O caso do bolinho". Ambos são textos da tradição popular recontados e adaptados para o português por Tatiana. Em ambos encontramos um texto que se repete ao longo da narrativa, trazendo novos elementos conforme a ação avança. Após plantar um rabanete e cuidar para que ele bem se desenvolva, o avô tem uma surpresa: a planta cresce tanto que é impossível desenterrá-lo. Pede ajuda para a avó e nada. Chama a neta e nada. O cachorro vem socorrer e nada. "Puxa que puxa" e o rabanete nem sai do lugar. Muito divertido este "puxa que puxa" que se repete ao longo de toda a narrativa. Na minha experiência como mediadora deste livro junto a crianças de 0 a 8 anos, o "puxa que puxa" sempre acaba virando um bordão quando a leitura termina. Imagine só, na hora de tirar a camiseta do bebê. Ou então as meias. Puxa que puxa e... aí, como amo essa história!

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Como ler?

O texto é bastante simples e as ilustrações trazem informações complementares que poderão ser exploradas em mais de uma ocasião. Adoro os traços do ilustrador Claudius que parecem nos convidar a desenhar também. Uma vez até tentei, pois achei que era fácil. Foi aí que me dei conta do movimento que o seu trabalho possui, com linhas que parecem correr pelas páginas pulando de um personagem para outro, de uma cena para outra. Adoro a cara fofa que ele dá aos personagens desta obra, todos com um sorriso simpático e generoso. Chame a atenção do bebê para esses e outros detalhes das ilustrações. Quanto ao texto, destaque o bordão "puxa que puxa". Afinal, mesmo que o bebê não compreenda o que é um rabanete enterrado em uma horta, o que é uma horta e outros aspectos da narrativa, tenho certeza de que ele logo entenderá a ideia central do texto, qual seja, a de que as pessoas às vezes têm dificuldades para realizar algo pois exige uma força especial (ou só o jeitinho certo - como a obra sugere aos leitores no final) e para tanto entoam um refrão. Puxa que puxa e a camiseta sai pela cabeça do bebê. Vira que vira e as páginas do livro avançam. Rola que rola e a bola corre solta. Transpor a literatura para a vidinha do bebê é aqui o mais importante. Somente assim ele aprenderá a relacionar o conteúdo dos textos com os fatos concretos que o cercam e, acima de tudo, compreender o quanto a literatura pode acrescentar às suas experiências.

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Palavra da especialista

Por que ler os clássicos? Esta é uma questão importante. Por que são melhores? Absolutamente não. Acredito que as novas gerações devem conhecer os clássicos simplesmente para fazer parte de uma tradição. Embora aqui no blog priorize as publicações contemporâneas, não devemos nunca esquecer os autores do passado. Não foi à toa que o nosso primeiro post apresentou uma escritora da velhíssima guarda, Odette de Barros Mott. Embora super premiada aqui no Brasil e internacionalmente, infelizmente sua obra está atualmente esquecida. Tenho receio de que daqui há uma década também Tatiana Belinky já não seja mais lembrada... Para quem não sabe, foi ela quem adaptou a obra de Monteiro Lobato para a televisão. São seus os primeiros programas do Sítio do Pica Pau Amarelo. É famosa a passagem de sua biografia na qual ela conta que Lobato chegou a telefonar para sua casa pessoalmente. Emocionada, não acreditou e desligou o telefone. Ele teve que retornar a ligação para convencê-la de que era o famoso escritor que queria falar com a então autora iniciante. Gerações que se cruzam, heranças que ganhamos de presente. Os clássicos nos mostram que temos um passado e que não é necessário começar do zero, como se nunca tivéssemos feito nada. Para um país como o Brasil, com uma autoestima tão delicada, nossos clássicos são essenciais.

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Onde encontrar?

Este é um dos grandes clássicos da literatura infantil nacional. Praticamente todas as grandes redes de livraria têm os livros da Tatiana Belinky e se não tiverem um exemplar da obra disponível na hora, encomendam rapidinho. Está para sair, agora em 2017, uma nova edição com ilustrações da querida autora e ilustradora Silvana Rando, cuja obra "Gildo" já foi indicada aqui no blog.

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Tome nota!

Título: O grande rabanete

Autora: Tatiana Belinky

Ilustrador: Claudius

Editora: Moderna

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